07/10/2012

HOLA ARGENTINA (Argentina parte II)

    Após 3 horas de voo,  o avião finalmente  aterriza no aeroporto de Ezeiza na cidade de Buenos Aires. Na bagagem, levo, além das roupas,  um objetivo, o de  me formar médico. Nunca havia estado na Argentina anteriormente, as únicas pessoas que tinha neste momento eram a minha assessora e aquela argentina que tinha conhecido há tempos numa noitada  na lapa. Antes de sair do aeroporto já tinha me dado conta de que a história da assessoria na qual dizia que  "se pode entender tudo " do castelhano era uma mentira absurda. Mesmo tendo estudado espanhol ,senti muita dificuldade de entender os argentinos , logo no meu primeiro contato com eles. 
    A maioria dos brasileiros que eu conheci em Buenos Aires não falam nada do idioma local, chega a ser engraçado quando tentam se expressar com um argentino, então você se pergunta : como uma pessoa vai cursar medicina num pais que fala o castelhano sem sabê-lo?? Bem, tentarei responder esta pergunta numa próxima postagem que dedicarei somente aos brasileiros.
    Voltando a trama da  minha chegada , um casal de assessores foi me buscar no aeroporto e me levaram diretamente ao escritório da assessoria, este casal se tratava do filho e  nora da dona da assessoria. Como não podia ser diferente, fui muito bem tratado ao chegar ,  serviram-me café , biscoitos ,refrigerante ; um verdadeiro banquete. Então pensei : "de fome eu não vou morrer aqui" . Antes de falar com a dona da assessoria, tive que esperar cerca de 40 minutos na ante- sala do escritório, percebi que havia uma menina que aparentava cerca de 20 anos e um senhor que parecia ser seu pai. Comecei a tentar algum contato com eles, e lhes perguntei de que lugar do Brasil eram e se estavam ali para estudar medicina. O senhor me respondeu que eram do Tocantins e que a menina se tratava de sua filha, que por não haver  passado no vestibular, teria que  estudar na Argentina, assim mesmo,  como um castigo. Não passou no vestibular, te mando à Argentina! A Menina não arriscava uma palavra e parecia muito triste. Seu pai continuava explicando-me os motivos que o levaram a tomar esta decisão, como se justificasse .
     Finalmente fui chamado pela assessora para entrar em sua sala,  deparei-me com uma senhora muito elegante e imponente  sentada em uma mesa cheia de papeis. Ao sentar-me à mesa , o primeiro que L. ( vou chamá-la assim pra evitar problemas futuros) me disse foi:
- Pablo, aqui na Argentina eu sou como sua mãe, quero saber de tudo que você faça e estou à sua disposição para tudo o que  necessite.
 Com estas palavras me senti muito confortado , mas a verdade é que só voltei a ver esta senhora 1 ano e meio depois em uma situação bem diferente, a qual vou contar em detalhes em futuras postagens. Frente a frente com a dona da assessoria, era a hora de fazer todas as perguntas sobre a vida na nova cidade e a tão sonhada faculdade . Comecei perguntando sobre a UBA ( Universidade de Buenos Aires) ,a qual eu tinha escolhido para estudar, então L. me respondeu com um discurso entusiasmado , digno de um político em vésperas de eleições,  dizendo-me :
-Pablo , a UBA é a segunda melhor universidade da América Latina, tem 3 prêmios Nobel e é reconhecida em   toda Europa.
Depois de ficar boquiaberto,  perguntei-lhe :
 - Existe um ranking de Universidades?
L. se virou e me mostrou um ranking que estava colado na parede de seu escritório,  e que mostrava a universidade argentina como a segunda melhor da América latina. Na verdade ,este ranking só existe nas assessorias de Buenos Aires, a UBA não é ,de forma alguma, a segunda melhor da América ( não estou dizendo que a universidade é ruim) , e ,sim, é verdade que ganhou prêmios Nobel  na década de 40 e 70 , ou seja, essas mentes brilhantes já não lecionavam na UBA há anos.
Como diz o ditado: " quando a esmola é demais, o santo desconfia". Não podia acreditar que iria começar estudar de graça e de forma tão fácil numa Universidade tão prestigiada mundialmente, e  segui- lhe  perguntando:
 -Quando liguei para a assessoria a fim de buscar mais informações a respeito da universidade, vocês  haviam me dito que  eu não preciso fazer nenhum exame de ingresso para começar a estudar na UBA. É verdade? Como funciona isso????
L. me explicou:
- Bem... Na verdade existe um primeiro ano de faculdade , você deve aprovar todas as matérias para passar ao segundo, mas não se preocupe, vamos te dar todo apoio necessário com aulas em nossos cursinhos, você só terá que pagar $ 200, 00 ( R$ 100,00) .
Logo me assustei, dizendo:
- Terei que pagar?! Tenho que fazer um cursinho?! Como assim?! Mas não era medicina sem vestibular?!
    Neste momento, a máscara começa a cair. Para uma pessoa estudar na UBA, tem que passar pelo CBC (ciclo básico comum)  o qual envolve 6 matérias anuais que nada têm a ver com as matérias da carreira elegida. São matérias como: matemática, sociedade argentina, filosofia, química, biologia e biofísica; e este ciclo é cursado em varias sedes espalhadas pela cidade , ou seja, é o vestibular argentino. Nesta hora já era tarde demais para voltar , resolvi comprar a briga e cursar o tal CBC, estava muito determinado.
    Esclarecidas as duvidas a respeito da faculdade, vamos à moradia , perguntei a L. onde eu iria viver , e se tinha reservado um hostel para eu passar pelo menos aquela noite. Ela  me respondeu que sim, e o tal hostel estava bem em frente ao escritório da assessoria. O combinado foi de  ficar uma noite neste hostel e no dia seguinte sair a buscar uma residência universitária ,  L. me deu uma relação de residências com as quais tinha convênio , como não me restava muitas opções, aceitei. Ao me levantar da mesa , pois, para mim, já havíamos falado de tudo o que me importava, L. me disse:
- Calma Pablo, ainda nos falta falar do plano de saúde.  Como você deve saber, o sistema público de saúde na Argentina é precário e você irá precisar de um plano.( Sim ,amigo, outro golpe!!!)
Eu juro que tentei escapar, mas ela finalmente me deu um ultimato, dizendo:
 - Está no nosso contrato que você tem que ter um plano de saúde. Touché, Pablito!!
Resumindo, isto me custou mais $ 300,00 ( aproximadamente R$150,00). Assegurado com o plano de saúde e com tudo certo para a faculdade , era hora de descobrir Buenos Aires.

    Fui diretamente ao hostel e resolvi ligar para aquela argentina da noitada carioca.  Liguei para o telefone que ela  tinha me mandado por e-mail e  marcamos de almoçar neste mesmo dia em um shopping chamado Abasto.  Soledad é uma médica formada na UBA e vive em um dos bairros mais nobres da cidade, chamado Nuñes. Após almoçarmos , ela me convidou a ir até a sua casa, como não tinha muito o que fazer, fui , e passamos todo o dia "conversando" . Neste mesmo dia ,Soledad me fez uma proposta indecente , a de viver com ela por 1 mês em sua casa. Você recusaria? Nem eu.
    Faltava 1 mês para o inicio das aulas no tal CBC, e eu não podia ficar parado, então resolvi fazer um curso avançado de espanhol, e, enquanto isso, seguia vivendo com Soledad. Aprendi muito neste mês, além do mais, viajei a algumas cidades como Mar del Plata, Tigre e Rosário; tudo graças à minha amiga . O mais curioso é que passado 1 mês da minha chegada , a minha "mãe - assessora" nunca tinha  me ligado, sequer para me perguntar se ainda estava vivo. No meu primeiro mês, não conheci nenhum brasileiro, parecia que eu era o único em Buenos Aires, o que  foi ótimo para o meu espanhol , assim pude praticá-lo a todo tempo. Após algumas desentendimentos com Soledad, e como se aproximava o inicio das aulas, resolvi ir a uma residência universitária no bairro de San Telmo. Nesta residência ,moravam aproximadamente 80 estudantes  homens e mulheres de vários países do mundo . Foi justo neste lugar, que tive meus primeiros contatos com os brasileiros que estavam na mesma situação a qual me encontrava , eram estudantes de medicina.
    A vida na residência era maravilhosa, tudo que um jovem deseja : ter contato com pessoas de diversos lugares do mundo, sair às festas sempre em grupos muito animados e  experimentar coisas novas; um verdadeiro sonho. Mas tudo isto tinha um preço, e era caro . Por exemplo, uma suíte  dupla (dividido por 2 pessoas) custava $ 1800,00 ( R$ 900) por mês, ou seja, eram poucos que poderiam pagar. Lembrando da assessoria, a informação que tinham me passado quando ainda pesquisava a respeito de estudar na Argentina  era de que com R$ 700,00 por mês eu me manteria em Buenos Aires , lembram?? ( Sim, senhores, mais um golpe!!!!). Só o custo da residência  era de  R$ 900,00 , o que incluía somente  a estadia e o café da manhã, os outros gastos eram por minha conta .  Somando o preço do plano de saúde , que fui obrigado a contratar, e o " cursinho" para o apoio à faculdade, já teria  um gasto mínimo de $ 2300,00( R$ 1150,00 ). Começava, neste momento, a cilada .

Na próxima postagem, falarei sobre os brasileiros que vivem em Buenos Aires e o primeiro ano da faculdade ....

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Essa do ranking da UBA é uma picaretagem da grossa.

    E qto aos Nobel, outra piada. Isso era da época em que a UBA e a Argentina eram de outro nivel, dos anos 50, quando o país era rico. Estão vendendo os loucos de um passado que NADA tem a ver com o presente.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Obrigado, André. Pois bem, quando contratei a assessoria, esta não me informara da existência do tal CBC, mas ele não foi o problema de estudar na Argentina, passei por isso com certa facilidade. O problema é que a faculdade é ruim mesmo, sem aulas, estrutura... Ademais, o país vive um colapso econômico e social, taxas inflacionárias absurdas e, por fim, a baixíssima aprovação na prova de revalidação no Brasil.

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  4. Como assim as matérias do CBC "nada tem a ver" com as matérias da carreira elegida?? Isso é mentira

    Tem ICSE e IPC, como matérias em comum em todos os cursos, ok, mas de resto, todas as matérias tem a ver com o curso elegido.


    E sobre esse hábito comum das assessorias de dizer que não tem vestibular, isso é verdade.

    Mas mesmo assim, eu acho que o CBC é BEM diferente de um vestibular.

    No CBC você compete consigo mesmo, basta estudar e levar a sério que você passa (além de ter uma boa base em espanhol).

    DIferente de um vestibular, onde o negócio é uma competição total

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.....que cilada hein Parceiro... fez alguma pesquisa antes de ter ido pra argentina? sua assessoria nao disse nada do CBC?...nem sua amiga argentina que formou na UBA? Antes de entrar numa dessas eu analiso tudo cara...pelo texto da pra entender que vc praticamente deu um tiro no escuro ou queria msm era ter ido pra bolivia.Pq la sim 'e apenas fazer a matricula!

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  6. ooi andre,tudo bem?? gostaria de saber em quais residencias estudantis você ficou e os preços que pagou..

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