No sábado, ao passar em frente a um dos lugares onde se aplicavam tais exames, como não poderia ser diferente , avistei centenas de candidatos ; todos com a aflição estampada em suas jovens faces, era o retrato do desespero expressado em cada rosto. Porém, em um determinado momento, enquanto conduzia meu carro no trânsito infernal, ocasionado pelos pais que levavam seus filhinhos para o " matadouro", comecei a fazer um rápido censo . Contei quantos alunos eram brancos, negros , pardos, indígenas, mulatos e variantes dos citados. Obviamente não cheguei a nenhuma conclusão, não pela falta de tempo, o trânsito estava realmente engarrafado; e sim, pela falta de um conceito para distinguir quem é de cada " raça" ( sempre uso aspas, pois a OMS não aceita classificar seres humanos por raças) .
O fato que me levou a refletir sobre este tema e a me divertir com a tentativa fracassada de fazer um censo sem fundamentos foi a polêmica lei de cotas nas universidades brasileiras. Como já é de conhecimento de todos , as universidades brasileiras adotam , há algum tempo, um sistema que segrega os candidatos pelas suas características físicas (cor de pele). Brancos e negros não competem pelas mesmas vagas, ou seja, o filho de um ministro negro, que conta com salário altíssimo e uma estrutura educacional invejável , tem uma reserva de vagas . Em contrapartida, o filho de uma família que estudou em uma escola particular, mesmo havendo sido paga com todo o sacrifício , terá de competir com a maioria dos candidatos.
Como tudo no Brasil, esta lei foi criada por um grupo de políticos aproveitadores ,que vislumbram angariar o apoio de uma parcela da população declarada afrodescendente. A base filosófica dessa segregação parte do conceito esdrúxulo de que, com a reserva de vagas , tenta-se reparar uma injustiça histórica no país, na qual negros africanos foram escravizados por brancos europeus , logo, as pessoas de pele mais escuras, mesmo após 125 da Lei Áurea, gozam da prerrogativa de uma forma distinta (privilégio) de seleção para o ensino superior. Ora, é o mesmo que culpar as crianças brancas de hoje por um erro de seus tataravós , e quem disse que os de pele negra são descendentes somente de escravos? Se trata de algo infundado, sobretudo dentro de uma sociedade miscigenada como a nossa.
Como saber quem é descendente de africanos e quem não o é? Pela cor da pele, olhos e traços? Lógico que não, basta lembrar-se do Michael Jackson . O excelente livro " Uma gota de sangue " , de Demétrio Magnoli, tenta desvendar este mistério; na minha opinião , sem sucesso. Os nazista diziam que para uma pessoa ser considerada não- ariana, bastava haver indícios, mesmo que mínimos , de que tinha um ancestral que fosse de outra " raça". Como aplicar este mesmo conceito no Brasil, a fim de separar brancos de não-brancos? Quiçá um exame de DNA.
Mirrei fixamente em uma menina que passara perto do meu carro, ela tinha um nariz achatado e cabelos crespos como de um negro, porém sua pele era tão clara como a de uma sueca. Com quem competirá pelas vagas na universidade? Provavelmente, com quem lhe convém.
Se o caro leitor vai prestar o vestibular, e teve a desfortuna de nascer com a pele branca, olhos claros e sua família não teve a sabedoria de matricular-lhe em uma de nossas "maravilhosas" escolas públicas, sinto informar-lhe , mas o seu vestibular se tornou ainda mais difícil. Por outro lado, se, como este que vos escreve, estudou em escolas particulares ( caríssimas diga-se de passagem) , mas tem uma cor de pele um pouco mais escura. Não refugue quando lhe perguntarem à qual "raça" você pertence. Diga-lhes: tenho a cor de piche. Pelo menos é o que eu diria, como um bom brasileiro que sou.